Drex: a nova grana digital do Brasil.
Cartão de crédito na gaveta, tarifa no chão e privacidade na berlinda: mergulhe no Drex, a moeda digital brasileira que promete cortar custos, automatizar pagamentos e, de quebra, dar ao governo novas rédeas sobre o seu dinheiro. Descubra benefícios, riscos de monitoramento e o cronograma que pode virar o jogo financeiro já em 2025.
Leandro Nascimento
7/25/20255 min read


Imagine pagar o cafezinho, o aluguel e até o pedágio sem cartão, senha ou MDR* salgada. Essa é a aposta do Drex, a versão programável do real que o Banco Central testa até meados de 2025. Mas, como toda revolução, a moeda digital vem com luzes… e sombras.
O que é o Drex, afinal?
O Drex é a versão digital e programável do real - uma CBDC (“Central Bank Digital Currency”) lastreada 1:1 na moeda que já conhecemos. Emitido exclusivamente pelo Banco Central (BC) e registrado numa rede de tecnologia de registro distribuído (DLT), ele funcionará como “token de reserva bancária”: bancos e fintechs transformarão o saldo que hoje fica em contas-reserva no BC em Drex, repassando aos clientes depósitos tokenizados que circulam na mesma infraestrutura. A ideia é integrar pagamentos, crédito, investimentos e seguros num único ambiente, com liquidação atômica (entrega + pagamento no mesmo bloco).
De onde veio a ideia? - Linha do tempo
Agosto de 2020 – Portaria 108.092 cria um Grupo de Trabalho Interdepartamental para estudar a eventual emissão de moeda digital.
Maio de 2021 – O BC divulga as Diretrizes do Real Digital, destacando: dinheiro programável, contratos inteligentes, integração com IoT e pagamentos cross-border.
Novembro de 2021 – Lançamento do LIFT Challenge Real Digital, abrindo espaço para que o mercado testasse casos de uso.
Março de 2023 – Início do Projeto-Piloto em ambiente de testes fechado; foco em tokenização de títulos públicos, depósitos e moeda eletrônica.
7 de agosto de 2023 – O BC batiza oficialmente a moeda de Drex (“Digital Real X”: d e r de real digital, e de eletrônico e x de conexão).
2024-25 – Piloto entra na segunda fase, validando camadas de privacidade. Lançamento ao público está previsto em ondas a partir do fim de 2025.
Propósito oficial do projeto.
Segundo o Voto 31/2023-BCB – documento que atualiza as diretrizes do Real Digital – o Drex deve:
Fomentar novos modelos de negócio usando contratos inteligentes, programação de pagamentos e integração com Internet das Coisas.
Democratizar o acesso a serviços financeiros (investimentos, crédito, seguros) da mesma forma que o Pix democratizou pagamentos, ampliando a competição e a inclusão.
Reduzir custos de intermediação ao permitir que ativos tokenizados e dinheiro circulem na mesma rede, com liquidação instantânea e frações mínimas.
Aumentar a eficiência e a segurança do Sistema de Pagamentos Brasileiro, mantendo supervisão do BC e aderência às regras de sigilo bancário e LGPD.
Conectar o Brasil ao cenário global de CBDCs e pagamentos transfronteiriços, facilitando a interoperabilidade com outras jurisdições.
Em poucas palavras, o Drex busca ser a plataforma-mãe sobre a qual o sistema financeiro brasileiro rodará contratos, ativos e serviços digitais, sob coordenação do Banco Central e com participação de bancos, IPs e fintechs.
O que muda no seu bolso?
Tarifas mais leves – estudo da Swiss Capital estima corte de até 40 % nos custos operacionais quando a liquidação acontece direto na blockchain, sem bandeiras nem credenciadoras.
Liquidação instantânea – ao contrário do cartão (que paga o lojista em D+30), o Drex repassa o valor na hora, liberando capital de giro.
Programabilidade nativa – dá para embutir regras como “pagar o streaming só se saldo ≥ R$ 500” ou acionar seguros de forma automática.
Cronograma – o BC prevê concluir a segunda fase do piloto no 1º semestre de 2025; o lançamento ao varejo viria em ondas a partir do fim do ano.
Contratos inteligentes & pagamentos autônomos.
Exemplo IoT – um carro com carteira Drex quita o pedágio assim que cruza o pórtico, sem Tags ou filas.
Tokenização de ativos – ações, cotas de fundos e até imóveis podem ser liquidados no mesmo ambiente, trocando Drex por tokens em um único “bloco”.
Débito automático 3.0 – mensalidades, assinaturas e gorjetas podem rodar sem gateways caros; o código executa e presta contas em tempo real.
Pontos negativos & alertas.
“Programável” não significa “privado”.
Monitoramento quase em tempo real – cada transação carrega CPF, horário e metadados. O próprio relatório da fase 1 do piloto concluiu que as soluções de privacidade (Anonymous Zether, Rayls, Starlight) ainda não entregam anonimato de varejo satisfatório.
Retenção de dados por uma década – instituições financeiras já devem guardar registros por até 10 anos; com Drex, até micropagamentos de R$ 2,00 entram no radar.
Geofencing – documentos do FMI alertam que uma CBDC (Central Bank Digital Currency, em português Moeda Digital de Banco Central), pode ser programada para funcionar apenas em áreas específicas. E a estreia internacional do e-CNY ficou restrita à “bolha” olímpica de Pequim em 2022.
Categorias de gasto bloqueáveis – o Fed já discute limites para “compras socialmente sensíveis”. Na Austrália, o Cashless Debit Card impedia beneficiários de usar 80 % do subsídio com álcool ou apostas – o Drex daria a mesma capacidade técnica ao governo brasileiro.
Política monetária na veia – contratos podem carregar prazo de validade ou juros negativos seletivos, como descrevem análises sobre CBDCs programáveis.
Privacidade técnica pendente – até agora, as soluções baseadas em ZKP sofrem com latência alta, risco de correlação ou custo de hardware seguro.
Conclusão
Em essência, o Drex é a versão digital, programável e lastreada 1:1 do real — uma CBDC (Central Bank Digital Currency) criada e operada pelo Banco Central do Brasil para levar pagamentos, investimentos e crédito à mesma infraestrutura tokenizada, com liquidação instantânea e custódia pública.
Do lado positivo, a moeda promete:
cortar drasticamente tarifas, já que a liquidação ocorre sem bandeiras ou credenciadoras;
liberar capital de giro no ato da venda, pois o dinheiro chega ao lojista em segundos;
embarcar contratos inteligentes que automatizam assinaturas, seguros e até pedágios;
conectar o sistema financeiro brasileiro a novas redes globais de pagamento e tokenização.
Mas cada linha de código traz suas sombras. Ao rodar em um livro-razão único, o Drex viabiliza monitoramento quase contínuo de transações; abre espaço para geofencing (uso restrito por localização) e para bloqueio de categorias de gastos “sensíveis”, mecanismos já citados em estudos do FMI e de reguladores mundo afora. A privacidade, por enquanto, continua em fase de teste e depende de soluções de prova de conhecimento-zero que ainda não escalaram de forma convincente.
Em outras palavras, o Drex reúne o melhor — e o mais controverso — da inovação financeira: tarifas menores e eficiência atômica, equilibradas por desafios inéditos de liberdade e vigilância. Até o lançamento público, previsto em ondas a partir do fim de 2025, vale acompanhar de perto as audiências do BC: é nelas que se decidirá quão libertador ou restritivo será o dinheiro digital que carregaremos no bolso (ou no celular).
*MDR é a sigla em inglês para Merchant Discount Rate, traduzida no Brasil como taxa de desconto do comerciante. Trata-se do percentual que a adquirente (maquininha ou gateway) desconta de cada venda feita com cartão de crédito ou débito para remunerar toda a cadeia — bandeira, emissor do cartão e a própria adquirente. Em geral, varia de cerca de 1,3 % a 5 % sobre o valor da transação, dependendo do setor, do prazo de recebimento e do tipo de cartão.
