Carbono virou dinheiro: guia completo para investir no mercado de créditos da B3

Descubra como investir em créditos de carbono na B3, os riscos e vantagens desse novo ativo verde que está movimentando bilhões.

Leandro Nascimento

8/1/20254 min read

Introdução

Nos últimos anos, os créditos de carbono deixaram o nicho ambiental e estão ganhando o status de ativo financeiro negociável — especialmente com a entrada da B3 no mercado brasileiro. Se você quer entender como investir, quais os riscos e por que o carbono pode ser tão promissor comparado a outros ativos como ouro ou minério, este guia técnico é pra você.

O que são créditos de carbono?

Créditos de carbono — ou Reduções Certificadas de Emissões (RCE) — representam a certificação de que uma tonelada de CO₂ (ou equivalente em outros GEE - Gases de Efeito Estufa) não foi emitida na atmosfera ou foi retirada por meio de projetos ambientais. São títulos negociáveis que empresas compram para compensar suas emissões, e indivíduos podem acessar indiretamente via fundos ou plataformas registradas pela B3.

Como funciona o mercado de carbono no Brasil — e a B3 entra em cena

1. Mercado voluntário vs. regulado

Hoje o Brasil opera apenas um mercado voluntário, em que empresas e investidores optam por compensar emissões sem exigência legal. A regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) entrou em vigor com a nova lei de 2024, e a B3 planeja lançar o mercado regulamentado com negociação oficial a partir de 2027.

2. Plataforma e infraestrutura da B3

A B3 firmou parceria com a AirCarbon Exchange (ACX) para desenvolver uma plataforma de registro e negociação, integrando infraestrutura tecnológica com liquidez global. Isso tende a profissionalizar o mercado e facilitar o acesso dos investidores — inclusive pessoas físicas.

3. Volume e crescimento

Em 2024 foram emitidos 42,5 milhões de CBIOs e movimentados cerca de R$ 7,8 bilhões, ainda com retração de 13% em relação ao ano anterior. O crescimento é consolidado, e a expectativa é de aceleração com a regulamentação.

Por que chamar o carbono de “moeda”? Pontos positivos

✅ 1. Oferta limitada e demanda crescente

Como no modelo cap-and-trade, empresas poluidoras compram créditos quando ultrapassam suas cotas. Provedores dedicados reduzem emissões, geram créditos e vendem no mercado — ajustando automaticamente o preço conforme oferta e demanda.

✅ 2. Escala global e potencial de valorização

O mercado voluntário vem crescendo: o Banco Mundial estima volumes globais na casa de bilhões de toneladas, com preços variando de US$7 a até US$63 ou mais por tonelada de CO₂. A B3, com infraestrutura robusta, pode acelerar a integração do Brasil a esse mercado global.

✅ 3. Comparação com minerais ou ativos agropecuários

Diferentemente de ouro, cobre, soja ou minério, o crédito de carbono tem impacto ambiental positivo — não exige extração ou armazenamento físico e gera valor através da redução ambiental. É uma “moeda” gerada por serviços ambientais, não por escassez mineral.

✅ 4. Impacto ESG e apelo institucional

Investidores institucionais e fundos ESG tendem a valorizar ativos que aliem retorno financeiro a impacto ambiental. Créditos de carbono bem certificados têm apelo direto em estratégias sustentáveis.

Comparação técnica: Créditos de Carbono x Outros Ativos

1. Natureza

  • Créditos de Carbono: Intangível, com natureza financeira sustentável.

  • Ouro / Minerais / Commodities: Ativo físico, extraído, com potencial impacto ambiental.

2. Valoração

  • Créditos de Carbono: Avaliado por tonelada de CO₂ equivalente.

  • Ouro / Minerais / Commodities: Avaliado por grama, tonelada ou unidade física.

3. Volatilidade

  • Créditos de Carbono: Alta sensibilidade a regulações, certificações e demanda por ativos ESG.

  • Ouro / Minerais / Commodities: Influenciado por geopolítica, escassez e demanda industrial global.

4. Liquidez

  • Créditos de Carbono: Crescente, especialmente com a entrada da B3 e plataformas como a ACX.

  • Ouro / Minerais / Commodities: Altamente líquidos em bolsas de valores e mercados globais estabelecidos.

5. Impacto ambiental

  • Créditos de Carbono: Positivo — cada crédito representa uma ação ambiental benéfica.

  • Ouro / Minerais / Commodities: Neutro ou negativo — pode gerar degradação ambiental durante a extração.

Pontos críticos e riscos do crédito de carbono

⚠️ 1. Risco de qualidade e certificação

Nem todo crédito é igual: alguns projetos podem gerar créditos sem real adicionalidade, permanência ou com risco de reversão (ex: desmatamento, incêndios). É essencial checar certificações como Verra ou Gold Standard.

⚠️ 2. Risco regulatório e de precificação

Até 2027 o mercado brasileiro ainda não terá cotas obrigatórias definidas, o que pode manter os preços baixos ou voláteis. Superoferta limita a valorização.

⚠️ 3. Integração regulada ainda em construção

O SBCE é recente e o arcabouço regulatório ainda não está totalmente operacional. Qualquer atraso pode frear a negociação de créditos na B3.

⚠️ 4. Liquidez inicial limitada para pessoa física

Embora plataformas permitam investimento direto ou via fundos ESG, o mercado ainda é pouco maduro para PFs, e exige estudo e seleção cuidadosa de ativos.

Como investir em créditos de carbono via B3 - (Lembrando que isso não é uma recomendação de compra ou venda de ativos)

a) Fundos ou ETFs ESG com exposição a carbono

Você pode acessar o mercado de carbono indiretamente via fundos ESG ou ETFs que incorporam créditos no portfólio.

Fundos ESG são fundos de investimentos, produtos e práticas que seguem critérios ambientais, sociais e de governança (ESG = Environmental, Social and Governance).

b) Plataformas de tokenização e corretoras especializadas

A tokenização de créditos usando tecnologia blockchain (como token via Ambipar e B3/ACX) permite negociação com rastreabilidade e segurança digital.

c) Investimento direto institucional

Empresas geradoras de créditos — como projetos de reflorestamento ou energia renovável — podem emitir títulos negociáveis em plataformas certificadas da B3.

d) Critérios de seleção técnicos

Antes de investir:

  1. Verifique certificadoras credenciadas (Verra, GS, ICVCM) ecosecurities.com

  2. Avalie tipo do projeto (energia renovável, reflorestamento, captura de metano)

  3. Considere a localização e risco operacional

  4. Verifique mecanismo de auditoria e permanência

Por que o carbono pode ser superior a outros investimentos?

  • Potencial de crescimento acelerado com regulamentação e demanda ESG.

  • Relação direta com metas climáticas globais, e política brasileira recente favorece o setor.

  • Diversificação real do portfólio: alternativa de ativo intangível, com valor derivado de impacto ambiental.

Em comparação, ouro ou minério têm valor pré-estabelecido e muito menos conexão com tendências ESG ou políticas climáticas.

Conclusão

O mercado de créditos de carbono negociados na B3 está em transição de voluntário para regulado. Com a infraestrutura tecnológica estabelecida via parceria com a ACX e a legislação do SBCE vigente, espera-se que a partir de 2027 o Brasil se torne um polo relevante nesse mercado.

Para investidores que buscam diversificação e impacto positivo, o carbono pode representar uma “moeda verde” com potencial de valorização – desde que acompanhado com análise de certificação, permanência, risco de reversão, liquidez e cenário regulatório.