Canetas Emagrecedoras: quem ganha (e quem perde) no jogo bilionário das GLP-1s 💉💰
As “canetas” de injeção semanal de GLP-1 explodiram de um mercado de US$ 15 bi em 2024 para projeções de US$ 150 bi até 2035. O hype se traduz direto na bolsa – e aí mora a oportunidade (ou o risco) para quem investe.
OPORTUNIDADES
Leandro Nascimento
7/15/20256 min read


Panorama: por que essas “canetas” viraram a nova mina de ouro? 🤑
Desde 2024, os injetores semanais de GLP-1 saltaram de um nicho de US$ 15 bi para protagonizar previsões que variam de US$ 105 bi em 2030 (Morgan Stanley) a US$ 150 bi em 2035 – nada mal para um remédio que, além de enxugar até 20 % do peso, ainda reduz risco cardiovascular.
Esse tsunami de demanda não é só farra farmacêutica: ele redesenha logística fria, muda cardápio de fast-food, derruba cirurgia bariátrica e cria ETFs temáticos. A seguir, mergulhamos nos protagonistas, nos ganhadores, nos perdedores – e em como investir (com cautela) nesse enredo.
Mas o que significa GLP-1, e por que todo mundo só fala dele?
GLP-1 é a sigla para glucagon-like peptide-1 – em bom português, peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1. Trata-se de um hormônio intestinal liberado logo depois que você come, produzido pelas células L do íleo e do cólon (e também por alguns neurônios do tronco cerebral). Ele faz três coisas centrais para o controle de peso e da glicemia:
Aumenta a secreção de insulina de forma dependente da glicose – ou seja, só “liga a torneira” quando o açúcar no sangue está alto.
Inibe a liberação de glucagon, o hormônio que eleva a glicose; assim, evita picos subsequentes.
Retarda o esvaziamento gástrico e envia sinais de saciedade ao cérebro, diminuindo a fome e a ingestão calórica.
Esses efeitos combinados tornaram o GLP-1 o alvo perfeito para medicamentos agonistas (que “imitam” o hormônio) usados primeiro no diabetes tipo 2 e, mais recentemente, na obesidade. As chamadas canetas emagrecedoras nada mais são do que autoinjetores semanais desses agonistas, desenhados para permanecer mais tempo no organismo do que o GLP-1 natural (que se degrada em poucos minutos) e, assim, produzir perda de peso significativa.
1. Os chefões e seus arsenais 🔬
Eli Lilly (LLY)
Zepbound (tirzepatida) domina o segmento de obesidade graças à dupla ação GLP-1/GIP e já soma meio milhão de novos usuários por mês.
Retatrutide, primeiro “tri-agonista” (GLP-1 + GIP + glucagon), promete perder >24 % do peso em fase 3; orforglipron, versão oral, deve chegar em 2026 e pode virar “manutenção” barata.
Vantagem competitiva: capacidade fabril própria nos EUA e parcerias com Ypsomed para canetas, garantindo escala.
Mounjaro: o blockbuster que pavimentou a estrada das canetas GLP-1
Embora Zepbound seja a “estrela” de Eli Lilly no nicho de obesidade, quem realmente abriu a porteira da tirzepatida foi Mounjaro, aprovado pelo FDA em 13 de maio de 2022 para controle glicêmico em adultos com diabetes tipo 2 — a primeira injeção semanal a combinar ativação de GIP + GLP-1 numa única molécula.
De lá para cá, a curva de vendas virou estudo de caso:
2024 completo: US$ 11,5 bilhões em receita, salto de 300 % sobre 2023.
1T 2025: mais um boom de +113 % ano-a-ano; US$ 3,84 bi no trimestre (US$ 2,66 bi só nos EUA), sustentados por 1,9 milhão de pacientes ativos, segundo o formulário 8-K.
Por que importa para o investidor?
Efeito portfólio: Mounjaro divide a mesma cadeia produtiva com Zepbound; cada linha extra de montagem reduz custo unitário e dá vantagem de escala que Novo Nordisk não consegue igualar ainda.
Cross-selling natural: médicos que já usam Mounjaro em diabetes migram com facilidade para Zepbound quando querem foco puramente em perda de peso, mantendo receita “em casa”.
Margem bruta turbinada: relatórios de Lilly apontam ~85 % de gross margin em Mounjaro; mesmo com descontos de PBMs como CVS Caremark, o volume devora qualquer abatimento.
Proteção de patente até 2037: garante ao menos uma década de fluxo de caixa antes de genéricos, tempo suficiente para Lilly lançar a versão oral (orforglipron) e, possivelmente, o tri-agonista retatrutide.
No mercado, Mounjaro já é visto como “o novo Trulicity”: substitui o velho GLP-1 single-agonista, rouba share de semaglutida (Ozempic) e prepara terreno para indicações cardiovasculares e renais em estudo.
Novo Nordisk (NVO)
Wegovy e Ozempic abriram o mercado, mas a liderança escorregou; CEO deixou o cargo em 2025 em plena disputa com Lilly.
Pipeline: CagriSema (combo semaglutida + amylina) em fase 3, usando autoinjetor YpsoMate 2.25 mL da suíça Ypsomed.
Desafio: ampliar oferta num cenário de racionamento e manter margens enquanto negocia descontos com seguradoras.
Amgen (AMGN)
AMG 133 (acônico GLP-1/antagonista GIP) reduziu 14 % do peso em 3 meses na fase 2. Rumores de parceria com Samsung Biologics para produção massiva.
Viking Therapeutics (VKTX)
VK2735 iniciou fase 3 em junho/25 (estudo VANQUISH, 4 500 pacientes) e já rendeu +350 % ao ticker em 18 meses. Potencial alvo de compra pelos “big two” caso mostre >20 % de perda ponderal.
Pfizer (PFE)
Depois do fiasco de tolerância, danuglipron oral foi cancelada em abril/25 – lembrando investidores de que nem todo tubarão engole esse peixe.
Quem engorda o caixa 🍗➡️📉 / Quem fica de dieta 💸
Setores que lucram 💸💸💸
Fabricantes de dispositivos – Ypsomed e Gerresheimer estão lotadas de pedidos de canetas, cartuchos e autoinjetores. A Gerresheimer projeta +€350 mi/ano só com GLP-1 em 2027 e abriu fábricas no México e EUA para dar conta.
Logística cold-chain – cada refil precisa de cadeia refrigerada -20 °C → operadores como DHL Supply Chain e UPS Healthcare reajustam tarifas premium. Estudos da ONdrugDelivery mostram boom em embalagens isotérmicas.
Telemedicina e clínicas – a demanda por prescrição rápida fez Teladoc, Ro e startups “GLP-1-as-a-Service” multiplicarem consultas pagas em até 4×.
Seguradoras – custo de curto prazo alto (até US$ 1 400/paciente/mês), mas projeções de 10% -15 % de economia em complicações de diabetes em dez anos; UnitedHealth testa modelos com coparticipação escalonada.
Setores que sangram 📉📉📉
Snacks, doces e refrigerantes – pesquisa AlphaWise (Morgan Stanley) indica queda de 3 % no consumo de salgadinhos e 4 % em bebidas açucaradas entre usuários de GLP-1. Coca-Cola admite “ventos contrários”, apesar de ainda crescer 6 % em receita orgânica.
Restaurantes fast-food – 63 % dos pacientes cortam gastos com delivery; redes indulgentes como Wendy’s revisam tamanho de combos, enquanto Chipotle surfa na onda “proteína + fibra”.
Equipamentos de cirurgia bariátrica – Intuitive Surgical reportou contração de volumes em 2024-25; o CEO culpa diretamente a popularização de GLP-1.
Programas de dieta clássica – WeightWatchers saiu do Chapter 11 e pivotou para tele-medicação, depois de ver o modelo de pontos ruir na era Ozempic.
Como se posicionar via ETFs 🎯
(Isso não é uma recomendação de compra ou venda de ativos)
Se você não quer escolher ação a ação, há três camadas de exposição:
ETFs de saúde ampla – XLV (Lilly ≈12 % de peso) e VHT dão colchão de diversificação, mas Novo Nordisk entra só via IXJ (global).
ETF de país – EDEN concentra ~22 % em Novo Nordisk; ótima porta de entrada para quem acredita no “turnaround” dinamarquês.
Temáticos GLP-1 – OZEM (Roundhill) e THNR (Amplify) carregam Lilly e Novo com mais de 40 % da carteira, adicionam players de seringa e logística, mas cobram >0,55 % a.a. e são bem concentrados.
Para quem gosta de biotech “early-stage”, XBI e IBB têm posições em Viking Therapeutics e Amgen, diluindo risco de ensaio clínico único.
⚠️ Alerta de volatilidade: Para quem mira exposição via ETF, lembre-se de checar o peso de Eli Lilly: no XLV já passa de 12 %, e em temáticos como OZEM ou THNR supera 20 %. (Esses percentuais podem mexer mês a mês — olho na ficha técnica!)
Próximos gatilhos a monitorar 🔎
Dados de fase 3 de retatrutide (Eli Lilly) – se repetirem perda >24 % do peso, consolida vantagem competitiva.
Decisão do CMS sobre cobertura obrigatória de GLP-1s no Medicare – pressão sobre orçamentos, mas potencial de explosão de vendas nos EUA.
Adoção de soluções reutilizáveis (Ypsomed NetZero) – podem reduzir custo e lixo plástico em >90 % por dose.
Possível M&A – Viking é alvo lógico; Roche e AstraZeneca sondam startups para não ficar fora do jogo.
🧭 Conclusão
As canetas GLP-1 deixaram de ser promessa e já movimentam cifras que podem multiplicar por dez esta década, posicionando-se como a engrenagem central da saúde preventiva. Eli Lilly lidera, bancando sua próxima geração de terapias com o caixa robusto de Mounjaro, enquanto a Novo Nordisk corre para não perder relevância. A maré ascendente turbina fabricantes de autoinjetores, logística fria e plataformas de telemedicina, mas aperta margens de fast-food, snacks e cirurgias bariátricas.
Para o investidor, ETFs amplos de saúde oferecem proteção, ao passo que temáticos como OZEM e THNR concentram o risco–retorno do hype. Olhos agora se voltam aos dados de fase 3 do retatrutide, à cobertura do Medicare e às canetas reutilizáveis — gatilhos que podem redefinir preços, margens e, em última instância, quem realmente sai ganhando nesta corrida bilionária.
