BRICS sem dólar: como a guerra das moedas afeta seu bolso?

A guerra das moedas está esquentando: entenda o plano dos BRICS para abandonar o dólar, os impactos no Brasil e o que muda no seu bolso.

FINANÇAS INTERNACIONAIS

Leandro Nascimento

7/30/20254 min read

BRICS sem dólar: como a guerra das moedas afeta seu bolso?

A ideia de um mundo menos dependente do dólar americano já não é só uma teoria de economistas ou um devaneio de países emergentes. Ela está em curso — e o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) está na linha de frente. O plano? Criar uma moeda própria ou, pelo menos, fortalecer as transações entre os membros usando moedas locais.

Mas, calma lá: o que isso tem a ver com o seu bolso, com o preço do arroz, da gasolina e com aquele sonho de viajar para fora? Neste artigo, vamos destrinchar os prós e contras dessa "guerra das moedas", analisar o papel dos EUA nessa história e te mostrar como tudo isso pode afetar o seu dia a dia.

O que é a desdolarização?

A desdolarização é o processo em que países ou blocos deixam de usar o dólar americano como referência principal para comércio internacional, reservas cambiais e contratos financeiros. No caso dos BRICS, isso inclui acordos bilaterais para usar moedas locais nas transações e até a ideia de uma nova moeda comum (muitas vezes chamada de "moeda BRICS").

Esse movimento ganhou força nos últimos anos, especialmente após sanções impostas pelos EUA a países como a Rússia e a pressão econômica via sistema financeiro internacional (controlado em grande parte pelos americanos).

Por que os BRICS querem sair da sombra do dólar?

🟢 Pontos positivos dessa independência:

  1. Menos vulnerabilidade a sanções dos EUA
    A Rússia, por exemplo, teve ativos congelados após a invasão da Ucrânia. Se o comércio for feito SEM o dólar, fica mais difícil para os americanos punirem financeiramente outros países.

  2. Fortalecimento das economias locais
    Transações em moedas locais ajudam a reduzir a dependência externa e estimulam a liquidez interna.

  3. Autonomia política e econômica
    Sair da “tutela” do dólar dá mais liberdade para decisões econômicas alinhadas ao interesse nacional, e não apenas às pressões de Washington ou Wall Street.

  4. Fomento a novos blocos de poder
    Cria-se uma alternativa ao sistema liderado pelos EUA e Europa, descentralizando o poder financeiro global.

E o que o Brasil ganha com isso?

O Brasil, como potência agrícola e exportador de commodities, poderia se beneficiar de transações mais diretas com China e Índia — seus principais compradores. Isso reduziria custos com câmbio e protegê-lo das flutuações do dólar.

Além disso, com uma moeda BRICS ou acordos bilaterais em real e yuan, haveria menos pressão para acumular reservas em dólar — o que hoje gera custo para o Banco Central (através de swaps e títulos cambiais).

Mas... e os riscos?

🔴 Pontos negativos da desdolarização:

  1. Falta de confiança em moedas alternativas
    O dólar é aceito no mundo inteiro por um motivo: estabilidade. Moedas como o real, o rublo ou o yuan têm controle estatal mais forte, instabilidade política ou pouco uso global.

  2. Baixa liquidez
    Transações fora do sistema SWIFT (o “WhatsApp” dos bancos globais, dominado pelos EUA) são mais caras, lentas e burocráticas.

  3. Fuga de capitais
    Se investidores perceberem que o Brasil está indo “contra o dólar”, pode haver retirada de capital estrangeiro, valorizando o dólar e pressionando inflação.

  4. Dependência da China
    Sair da influência americana para entrar na esfera de Pequim pode trocar seis por meia dúzia. A China também tem interesses geopolíticos e econômicos claros — e nem sempre eles batem com os nossos.

O que muda para o consumidor brasileiro?

Mesmo sem uma moeda BRICS em circulação, os efeitos dessa “guerra cambial” já estão no radar do mercado financeiro:

  • Viagens internacionais: se o dólar perder força, pacotes para os EUA podem ficar mais caros em outras moedas.

  • Inflação: um real mais valorizado frente ao dólar pode baratear importações, mas isso depende do sucesso das novas moedas e acordos.

  • Investimentos: fundos cambiais, ações exportadoras e criptoativos podem se valorizar (ou despencar), dependendo do humor global.

Vale a pena ignorar os EUA?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Literalmente.

✅ Pontos positivos em negociar menos com os EUA:

  • Maior autonomia comercial.

  • Redução da exposição a juros americanos (que afetam nosso crédito interno).

  • Incentivo ao comércio Sul-Sul, com países emergentes crescendo juntos.

❌ Pontos negativos:

  • Perda de acesso a um dos maiores mercados do mundo.

  • Deterioração de relações diplomáticas e comerciais.

  • Redução no fluxo de investimentos e tecnologias vindas do Ocidente.

Como o investidor brasileiro pode se proteger?

(Lembrando que isso não é uma recomendação de compra ou venda de ativos)

O investidor deve estar atento a três coisas:

  1. Diversificação: tenha exposição ao dólar, ao real e até ao yuan (via fundos internacionais).

  2. Risco geopolítico: crises aceleram mudanças cambiais, mas também geram volatilidade.

  3. Acompanhamento macro: fique de olho nas decisões do Banco Central, nos acordos internacionais e nas tendências dos BRICS.

E uma moeda BRICS, sai ou não?

Apesar do discurso político, criar uma moeda única BRICS é mais complexo que parece. As economias do bloco são muito diferentes entre si. Enquanto a China é uma potência industrial, o Brasil ainda depende de commodities. O rublo sofre com sanções. O rand (da África do Sul) é instável.

O mais provável, por enquanto, é a expansão do uso de moedas locais em acordos bilaterais — o que já está acontecendo entre Brasil e Argentina, China e Rússia etc.

Conclusão: o dólar não vai sumir... mas o jogo está mudando

A hegemonia do dólar ainda deve durar décadas, mas seu domínio absoluto está sendo desafiado como nunca antes. Para países como o Brasil, há vantagens estratégicas em diversificar — mas o custo de um rompimento mal planejado pode ser alto.

Cabe ao investidor e ao cidadão comum entender o cenário, proteger seu patrimônio e não cair em narrativas ideológicas demais, de um lado ou de outro.

E agora?

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